domingo, 27 de janeiro de 2008

A bola. por: Marcelo Camelo

O cara é demais né, tive de postar isso aqui, achei em um blog dele.

A BOLA:

É engraçado a busca pelo dogma do pensamento. A impressão de que há um texto único que sirva pra todos nós. Por que a gente ainda luta por isso? Não deu pra perceber ainda que cada um de nós veste o que escolhe vestir. A raiva diante de um texto confessional acontece, parte por esse equívoco, de olhar pra isso como uma proposição absoluta e outra pela natural rejeição a qualquer tipo de informação nos dias em que a gente quer menos dela “A... Não fala nada...”, eu mesmo falo isso direto vendo TV. Quando eu me vejo na TV então, aqui o doutorando de filosofia pensa saber pensar. O professor pensa saber ensinar a escrever. Eu penso sentir. Todos nós enganados sentimos a partir do que a gente pensa. Nas todas as vezes que tento propor uma verdade eu sinto que pode ser mentira. Vai saber... Eu gostaria muito de ter um exemplo concreto de como se deve escrever. Um manual universal que o meu só me deixa pensar sobre o que eu sinto, mesmo quando me dizem que eu sinto errado (como fazem os filósofos). Quando isso acontece eu me pergunto se existe isso. Sentir errado, acho que existe tanto quanto dançar errado. Meu amigo Caíto ouviu uma vez “dança direito!”... Dançar direito é foda. Mas eu estou pensando nessa impessoalidade crítica por um outro motivo. Eu acredito na força dos nossos espelhos, na força que a cultura gerada no nosso próprio inconsciente tem de ensinar nosso sentimento. No mundo atual acho romântica a afirmação de que há algo de original que consegue atravessar a influência da cultura, que nós sempre vamos nos rebelar contra a força opressora da invenção de nós mesmos. Não vamos. A maioria de nós vai dialogar com o que a moçadinha editorial resolveu enxergar como realidade e, a retórica, minha algoz e salvadora, é tipo o fio de Ariadne. Viu professor, agora a informação é de todo mundo. Você, se vivia da gerência dela, é bom começar a promover o olhar. Minha geração lê sobre o teseu ou sobre o he-man no mesmo google, em igualdade de condições. Vai lá: google – fio, labirinto até entender metaforicamente a fábula. E na mesma justa medida de velocidade de combustão destes fenômenos, a gente anda. Por isso, faz pouco sentido propostas de conduta partindo do imaginário de ideal dos nossos pais. O meu aos 18 fez faculdade de engenharia porque aos 13, num exame psicotécnico, encaminharam seus ensinos, suas expectativas, pra área de exatas. Ele aos 18 nem questionava, era tipo verdade absoluta. A vida tava encaminhada aos 20. Mulher, casa, trabalho. Nosso paradigma é outro, é fluído, é auto destrutivo. Duram menos nossas verdades, são menores as nossas espirais.

Por conta disso a gente se reinventa a qualquer hora. É preciso celebrar essa conquista social. “Já que é tudo fingimento, que eu finja ser o que eu quero no momento que quiser”. Se a gente ainda está na caverna escura, ao menos os vultos são invenções pulverizadas. Essa proposição de verdade onde a gente se vê virou de todo mundo, é o maior movimento de democratização que já houve. E olha que ele mal começou. Eu que acho um monte de coisa e não sei nada pergunto pra vocês, que vão mesmo comentar isso aqui: pergunto assim como quem não sabe, como quem tem curiosidade e dúvidas, que tipo de humano a internet vai forjar? Se hoje os valores morais de comportamento são chancelados por uma geração embalada na TV, que tipo de gente serão os nossos filhos? Atualizando eles mesmos seus desejos?

3 comentários:

Juliana Caulfield disse...

deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu nariz!

des-contente disse...

(nãoseioqueescreverdepoisdeterlidoisso)

Só friso "O cara é demais né"!

Anônimo disse...

Massa teu blog!!! Para quem curtir Camelo, tem esse aqui também: http://camelo.wordpress.com/