sexta-feira, 23 de março de 2012

Eu não queria andar morrendo pela vida


- Duvida que eu consigo estudar processo penal essa tarde?

É com essa pergunta que começo a divagar sobre o dilema de sexta-feira.
Sexta-feira é um dia ímpar, apesar de ser numericamente par. É o dia da expectativa, que passamos a semana toda esperando, sem saber o quê exatamente, mas ansiamos desesperadamente pela sexta-feira.
No meu caso, há anos a tal da sexta-feira tem um sentido enorme. No colegial lembro dela de uma forma muito peculiar. Era naquele dia que me escondia na biblioteca municipal, pegava um livro da Clarice e alimentava minh'alma. Era na sexta que eu me descobria, que marcava um encontro comigo mesma. Às tardes passadas deliciosamente em baixo daquela árvore que tanto, tanto gostava. Era assim, quando ficava muito quente dentro da biblioteca a gente saía e ficava na praça, olhando o movimento, reparando a árvore, tomando um ar. Digo "a gente" porque muitas vezes uma amiga me acompanhava, outras não; vezes aparecia alguém diferente, vezes não.
Exatamente sexta-feira à tarde. Hora de escolher: estudar ou viver? Não que estudar ou dedicar um tempo pra algo a longo prazo não seja viver, porém, dentro de mim, o viver nada tem a ver com isso. O que pulsa, faz respirar, sentir, me reconhecer como ser humano, sinceramente, não passa nem perto de utilitarismo, de lucro, de racional, de calculável. O sentido da vida, contrário ao que sou forçada a acreditar, é "invísível aos olhos".
Devo dizer que quero viver do essencial, sabendo ser isso provavelmente impossível, pra nao dizer certamente impossível.
Vejo-me diante desses dois livros, qual escolher?

Ah, se fosse uma quinta-feira..